segunda-feira, 21 de abril de 2008

Hoje,de manhã, cheirou-me a ti...


Não sei se é por ser primavera…embora a instabilidade climatérica nos impeça de a sentir como merecemos…mas algo me trouxe o cheiro de ti…

Que saudades…

(fui procurar ao dicionário o conceito exacto desta palavra saudade: lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou possuir)

Quem dera que ainda fizesses parte da minha vida…

Mas trocaram-nos as voltas…cedo demais…

Agora és simplesmente uma casa em ruínas…

Que saudades!

Terrinha da minha infância, que transportarei para sempre no coração, MOREANES (para os mais perdidos na geografia, Moreanes pertence ao concelho de Mértola e escassos kilómetros a separam da famosa Mina de São Domingos)…

Mas as recordações ficaram assinaladas em mim…

As festas no Verão… o vai e vem dos emigrantes…o baile da pinha na Páscoa… as brincadeiras com a minha prima…o baloiço a ranger por falta de óleo…a água fresquinha do poço…os bolinhos de massapão inconfundíveis…a relaxante paisagem…o cheiro das flores e dos pinheiros…a magia da noite estrelada…as pessoas…a minha avó…

Sempre que se aproximava a hora da viagem…os índices de euforia aumentavam vertiginosamente…

Quando perdíamos de vista as tumultuosas curvas de Mértola, avistamos logo a igrejinha, briosamente, pintada de branco…

Poucos metros após a entrada na terra, a casa de minha avó…uma porta verde…três pialinhos…e uma roseira enjeitada…


Mesmo de frente para a rua principal, a casa da minha avó, parecia dar as boas vindas ou então um volte sempre a quem ali passava…era passagem obrigatória para quem quisesse sair ou entrar da aldeia…

Que saudades!...

A casa da minha avó, não tinha electricidade nem água a correr nas torneiras…como era normal…hoje já, praticamente, toda a gente tem água canalizada…( o conceito da palavra progresso neste tipo de localidades é ligeiramente diferente do nosso. Mas eles é que estão, e sempre estiveram, no rumo certo!!!)

Íamos buscar água ao poço em enfusas , lembro-me que a nossa era azul…

O banho era tomado num alguidarão, com água aquecida no fogão, para tirar a “ escuma” do cabelo, a minha prima jogava-me água de dentro de um jarro…quando acabava a lavação podem imaginar o soalho de tijoleira, inundadíssimo…um verdadeiro chap chap…mas divertido…a minha avó é que não achava muita graça…

A Isabel Alçada e a Ana Maria Magalhães tinham argumento que chegasse para escrever: “ Uma Aventura em Moreanes”.

Enfim…ficam as memórias…

E tantas saudades…de tudo e todos…

Pode ser que um dia volte… para ficar…

6 comentários:

anademar disse...

oh amori, até eu fiquei com saudades de Moreanes e nunca lá fui... que nostalgia!

Zig disse...

Bonito! Não sei bem porquê, mas sinto algo parecido sempre quando vou a Corte Cafo de Baixo, sem nunca lá ter vivido. Realmente, toda esta zona tem algo de muito especial. Se calhar, um dia, irei viver para essas bandas...

Maria disse...

ola! pois eu revi-me bastante nas tuas palavras... Também parte da minha infância foi passada em Moreanes. Há bem pouco tempo passei por lá, e sabes, alguém um dia disse e muito bem " nunca se deve voltar ao sitio onde um dia se foi feliz ". Hoje as recordações, os cheiros, os sabores, e os risos estão bem vivos mas no meu coração. Beijinhos

Anónimo disse...

“Saudade”! É gratificante para mim ouvir alguém falar de saudade desta terra que me viu nascer e crescer, e que tem o nome de Moreanes! Não foi fácil de todo permanecer meio século nesta terra de fracos recursos, sem que tivesse que abandona-la para sobreviver.

Ainda na Escola Primária, prometi a mim mesmo que resistiria até à última hipótese a partir da terra onde nasci! Porque quantos mais partissem mais pobre ela ficaria.
Ao longo da minha vida, tive bons e maus momentos, felizes e menos felizes, mas sem nunca perder a coragem de vencer e cumprir.

Hoje infelizmente, sinto-me esgotado, desiludido, apunhalado e derrotado..nem mesmo o prazer que sempre senti em viver na terra onde nasci, me consegue aliviar a dor violenta que me atraiçoou. Sinto que ainda caminho, mas sem rumo, nem norte! Porque, por ouvir falar em saudade, é de saudade que vou perdendo as forças, é de saudade que vou morrendo aos poucos.

Peço desculpa pelo meu desabafo.

L.P.

Anónimo disse...

Só para lembrar.

Ultimamente tenho-me apercebido de alguma confusão em relação à naturalidade de Aureliano Mira Fernandes, uns dizem que nasceu em Mértola, outros dizem que nasceu na Mina de S. Domingos, mas não corresponde à verdade! Aureliano Mira Fernandes, nasceu em Moreanes, numa casa situada na rua grande, cerca de trinta metros do Restaurante Alentejo.

AURELIANO LOPES DE MIRA FERNANDES, 1884-1958
Nasceu em Moreanes, concelho de Mértola, em 16 de Junho de 1884.
Completou em Beja o 5º ano do liceu.
Prosseguiu os estudos em Coimbra onde obteve o grau de licenciatura em Matemática em 1910. Doutorou-se em Matemática em 1911, com 20 valores, tendo exercido funções de Professor substituto na referida Faculdade.
Em 1910, juntamente com o Dr. Brito Camacho, foi eleito deputado pelo Partido Republicano fazendo parte das primeiras Câmaras para elaborar a constituição da República.
Depois do seu único mandato deixou de ter qualquer participação activa na política mas manteve-se sempre fiel aos princípios democráticos e republicanos.
Em 1911 foi nomeado cumulativamente Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico (I.S.T.) e Professor do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras em Lisboa.
Colaborou com a Accademia dei Lincei, foi sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e sócio correspondente da Real Academia de Ciências de Madrid.
Em 1943 fundou a Junta de Investigação Matemática conjuntamente com António Monteiro e Ruy Luís Gomes.
Manteve assíduo contacto com os mais notáveis Matemáticos do seu tempo
Leccionou no I.S.T. até ao ano lectivo de 1954-1955, data da sua jubilação aos 70 anos de idade.
Mira Fernandes fez vários trabalhos de balística, trajectórias de projécteis e também de Física Atómica.
Faleceu em Lisboa, em dia 19 de Abril de 1958.

L.P.

Anónimo disse...

AURELIANO MIRA FERNANDES



Natural de Moreanes, concelho de Mértola, distrito de
Beja, nascido em 16 de Junho de 1884.
Mira Fernandes saiu de Moreanes com a instrução primária,
frequentou em Beja o curso do liceu (5º ano).
Em Coimbra prossegui os estudos onde obteve, em 1909,
o grau de Bacharel e em 1910 o de Licenciado em Matemáticas,
na extinta Faculdade de Matemática.
Em 1911 obteve o Doutoramento em Matemática, com a
prestação de brilhantíssimas provas, tendo feito parte do
júri o Dr. Sidónio Pais.
Durante o seu percurso académico, Mira Fernandes foi
sempre um aluno brilhante, tendo conquistado todos os
prémios atribuíveis. Em 1910-1911 foi Professor substituto
na referida Faculdade.
Em 1910, juntamente com o Dr. Brito Camacho, natural
de Aljustrel, foi eleito deputado das constituintes pelo
Partido Republicano fazendo parte das primeiras Câmaras
para elaborar a constituição da República.
Em 1911 foi nomeado Professor Catedrático do Instituto
Superior Técnico.

L.P.